sábado, 25 de abril de 2009

Capítulo I (continuação)

- Quem és tu? - perguntou, forçando-se a controlar um estremecimento, por saber que, no seu interior, há muito que a resposta fora gravada.
O estranho sorriu.
- Não é óbvio? - respondeu - Não sentes a minha presença dentro da tua cabeça, como um fio que te liga a mim? Eu sou um vampiro. Concretamente, o vampiro que te transformou.
Os seus olhos encontraram-se com os da criatura, petrificados por um ódio que parecia consumir as poucas formas que sentia ainda dentro de si. Um vampiro... A monstruosidade que, aparentemente, o derrotara, mas que não pudera simplesmente extinguir o fogo da sua existência.
Um sorriso gélido desenhou-se nos lábios do vampiro.
- Devo avisar-te - disse - que consigo ouvir os teus pensamentos como se fossem os meus. São as pequenas vantagens de criar uma nova vida... Ou deveria dizer morte?
- O que me fizeste? - inquiriu o caçador, exaltado.
O vampiro não respondeu. Não foi necessário. Como se em resposta a uma ordem silenciosa, as memórias invadiram a mente do caçador, trespassando-o com a sua violência. Via nitidamente o encontro de ambos no cemitério, a luta desesperada que entre ambos se travara, para terminar, enfim, com uma humilhante derrota. As últimas recordações não eram senão sombras vagas, envoltas numa névoa enrubescida, sinistra no sangue e na dor que por entre ela se destilavam.
- Tu... - murmurou, reconhecendo, enfim, o seu inimigo.
- Começava a pensar que nunca me reconhecerias. - observou o vampiro. Depois, uma súbita onda de dor percorreu o corpo do caçador. - Agora, podes começar a tratar-me com a formalidade que me deves, sendo uma das minhas criações.
Inicialmente, o caçador não reagiu, mas, mais uma vez, um intenso fluído de agonia atravessou o seu corpo, como se circulasse através das suas veias.
- Porquê? - murmurou o caçador.
- Deves saber que não és propriamente uma entidade querida entre os da minha espécie. Espécie de que agora fazes parte. Matar-te seria demasiado simples e nem de perto tão maravilhoso como ver-te rastejar aos meus pés. Na verdade, deves reconhecer que fui benevolente. Podia ter-te morto, mas tornei-te imortal.
- E escravo...
O vampiro sorriu.
- Só até que aprendas a servir devidamente. - declarou - Para já, podes começar por ajoelhar e reconhecer que a tua vida é minha.
Relutante, o caçador obedeceu.
- Vivo para vos servir, - murmurou - príncipe Drácula.

Um comentário:

Psiquedelicous disse...

reconheço, servilmente, que perto de ti, não sou nada! (como escritora, devo acrescentar, a minha humildade não chega a tanto)

Vamos ver onde isto vai dar...